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Deixar cair a máscara, na reabertura das creches!




O uso de máscara é uma experiência nunca realizada, mas olhando para o corpo de conhecimento acumulado nos últimos quase 40 anos pela psicologia experimental, é de prever que o efeito seja perturbador para a criança com menos de 3 anos.




FotoRASHID SADYKOV/UNSPLASH




Para criar uma criança emocionalmente equilibrada e com um bom desenvolvimento, não basta alimentá-la, dar-lhe cuidados de saúde e mantê-la em segurança. É preciso uma aldeia de afetos, estímulos, sorrisos, olhares, etc..

Nos primeiros três anos de vida, o cérebro humano sofre rápidas e cruciais alterações que moldam o desenvolvimento e personalidade futura. Começamos deitados, aprendemos a sentar-nos, a andar, a correr. Começamos a chorar, aprendemos a palavra, a frase, a produção de ideias. Começamos a olhar em redor, aprendemos a imaginar o mundo e a distorcer a sua imagem. Aprendemos a inventar, a mentir e a fantasiar. Tudo em breves três anos. 

Tudo começa logo após ao nascimento. O bebé orienta-se nos primeiros minutos de vida para a mãe, para reconhecer a sua voz e o seu cheiro. Fixa essa informação. Vai progressivamente aprender a descodificar diferentes tons, entoações, latência e timbre da voz dos pais (tal como os pais aprendem a identificar os tipos de choro do bebé) e, brevemente, vai parar atento face a um som aflito da voz da mãe (mesmo sem compreender o conteúdo).

Este processo de descodificação e organização de informação — de estabelecimento da causalidade, de discriminação de padrões e de previsões do comportamento do outro — são a primeira e mais exigente tarefa do cérebro humano. Depois o bebé prepara uma resposta, não basta chorar quando está desconfortável. Rapidamente esta resposta perde eficácia, para obter atenção, cuidados e afetos. A informação descodificada é usada para preparar uma resposta que permite ao bebé lidar com a estimulação que o rodeia. O bebé aprenderá muitas operações diferentes e a combiná-las (abrandar, acelerar, exagerar, repetir, simplificar reações através de diversas respostas faciais, corporais e verbais) para atingir o seu objetivo.

Eis o início da personalidade, inteligência e afetividade de cada indivíduo.

Os investigadores, notavelmente Berry Brazelton e Edward Tronick, decidiram observar como reage o bebé por breves dois minutos sem respostas emocionais de um adulto. Pediram ao pai ou à mãe para se sentarem à frente do bebé, imóveis e inexpressivos. O resultado é evidente quando comparamos as respostas antes, depois e durante esta experiência. Durante esses dois minutos, o ritmo cardíaco e as arritmias do bebé aumentam e são desencadeados mecanismos de resposta ao stress (libertação da hormona cortisol e supressão do sistema vagal) enquanto o desconforto físico é evidente (choro, resmungos, agitação física). Esta reação verifica-se em bebés desde das duas primeiras semanas de vida e até aos 2 anos. Nalguns casos, os investigadores têm de interromper a experiência ao fim de alguns segundos dada a elevada perturbação do bebé

Porque é que tal acontece? Os bebés usam as respostas dos adultos como navegação social, para viver no mundo dos adultos. Dependem deles e vivem na consequência dos seus atos. A única ferramenta é ler e adaptar-se ao comportamento do adulto e, sempre que possível, manifestar as suas necessidades. Sem as respostas do adulto, o mundo fica incompreensível e assustador.

A criança precisa de brincar, afiliar-se, receber e dar respostas afetivas tanto como precisa de vitaminas. A frase consta num relatório da Organização Mundial de Saúde realizado em 1952 por John Bowbly.

E agora a máscara nas creches! É uma experiência nunca realizada, mas olhando para o corpo de conhecimento acumulado nos últimos quase 40 anos pela psicologia experimental, é de prever que o efeito seja perturbador para a criança com menos de 3 anos. Espera-se confusão, agitação e perturbação. Repetindo diariamente este processo, podemos ter consequências psicológicas próximas das resultantes de stress prolongado. Os profissionais de educação, conhecendo esta informação, enfrentam o dilema: deixar a cair máscara para proteger o desenvolvimento e a educação do bebé (cumprindo o seu papel profissional) ou manter a máscara e proteger-se (e aos seus familiares) do contágio pela covid-19.

Na minha opinião, a solução para resolver o dilema anterior é duplicar o número de profissionais em creche e abrir com um rácio de um adulto por quatro crianças (no máximo). Com um pequeno número de crianças, o contágio é mais difícil e a gestão de todos os processos associados às novas medidas da covid-19 será mais fácil.

A autora escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico.

Doutorada em Psicologia, Professora Coordenadora da Escola Superior de Educação de Lisboa e Investigadora no Centro de Psicologia da Universidade do Porto

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