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Criança fora da escola no Rio de Janeiro é negra e pobre

Menino de 14 anos ficou dois anos fora da escola. Ele mora em lar da Associação Amar Foto: Guilherme Pinto


Victor (nome fictício), de 14 anos, não consegue esquecer o último réveillon: naquela noite, assistiu a uma mulher ser assassinada numa cracolândia perto do Jacarezinho. Filho de usuários da droga, o menino viveu nas ruas por dois anos — logo após os pais venderem a TV, o carro, a casa e tudo mais por causa do vício. Victor é o retrato dos que saem da escola: negro e pobre, segundo dados do projeto “Fora da Escola Não Pode”, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Instituto Tim, com base no Censo 2010, do IBGE. Só na cidade do Rio, segundo o projeto, são 79.681 crianças e jovens de 4 a 17 anos fora das salas de aula (6,6% do total do município).





















— A solução para a volta da criança à escola é um trabalho intersetorial da educação com a saúde, o desenvolvimento social, a segurança pública, o esporte, a cultura. Além disso, é preciso que exista a participação do jovem dentro da escola. É assim que ele se fixa — explica Luciana Phebo, coordenadora nacional da Plataforma dos Centros Urbanos e do escritório do Unicef no Rio.

Violência (dentro e fora da escola), dificuldade de locomoção pela cidade até chegar às unidades educacionais — que podem ser escolas, mas também bibliotecas, teatros, museus —, currículo desconectado do mundo real e trabalho infantil são algumas das principais causas apontadas por especialistas para o abandono das salas de aula.

— O ensino médio é a faixa mais desafiadora. A violência e o tráfico competem muito com a educação. Eles (os jovens) também são atraídos pelo trabalho, quando precisam e até quando escolhem. A escola atual atrai menos — analisa a educadora Maria Rehder, da Campanha Nacional pelo Direto à Educação.

A Prefeitura do Rio informa que levou 4.448 crianças de volta para a escola com o projeto Aluno Presente, criado no fim de 2013. Já a Secretaria estadual de Educação diz que mantém programas contra o abandono escolar como o Reforço Escolar e o Renda Melhor Jovem, que paga até R$ 3.800 para o aluno se formar.

‘O abandono escolar tem raça e tem gênero’

Entrevista com Marcelo Mazzoli, coordenador do Programa de Educação do Unicef no Brasil

A criança fora da escola é aquela que nunca foi matriculada ou a que saiu?

A maior parte é de quem já passou pela escola e não ficou. E o abandono tem raça e tem gênero. São meninos negros nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Quais são os fatores que levam à saída deles?

O atraso escolar é um fator muito importante. Em 2010, o Brasil tinha 14,6 milhões de estudantes com defasagem de dois ou mais anos de ensino — isso significa mais de 20% das matrículas no país. Outro fator é a monotonia curricular. A falta de sentido prático da vida cotidiana do aluno é um problema que o país tem que resolver. Um terceiro fator é a relação verticalizada da aprendizagem. Eles se sentem clientes da escola, quando poderiam participar. Participação crítica na própria construção do projeto da escola reduz muito as taxas de abandono.

No Brasil, onde estão os números mais altos de criança fora da escola?

Nas zonas rurais. Claro que você encontra bolsões de exclusões na cidade, mas nas partes rurais é muito maior. O estado do Amazonas também tem taxas muito altas.

‘Meu sonho é ser médico’

Victor (nome fictício), de 14 anos:

— Vivi dois anos na rua com meus pais, que eram viciados em drogas. Morar na rua é muito triste. Agora eu estou recuperando o tempo que eu perdi na escola. Estou fazendo dois anos em um, numa escola municipal aqui de perto, no Grajaú. Daqui a pouco vou estar no meu ano normal do colégio. Eu quero ser um médico quando crescer para ajudar os outros. Na rua, as pessoas ajudavam a gente. Vi gente morrendo do meu lado. No dia do réveillon, vi uma mulher sendo assassinada. Três dias depois, um viciado foi atropelado pelo trem na minha frente. Meu irmão mais novo está em outra casa de internação. Não sei até quando eu fico aqui na casa. Estou esperando meus pais se recuperarem. Eles estão numa clínica em Guaratiba. Ou então vou para a casa de uma tia de consideração. Mas nunca mais quero largar a escola.

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