A Educação é uma força poderosa de equidade. Mas, para ser efetiva, precisa atuar concretamente contra a discriminação

“No
passado, a escola pública era excelente. Minha família era pobre, mas
mesmo assim eu tive uma Educação muito boa. Hoje, é um desastre!” Essas
frases são de uma diretora de escola de São Paulo, na faixa dos 60 anos,
alguns meses atrás, depois de um debate do qual participamos. Quando
ela terminou de falar, eu respondi que entendia o ponto dela, mas
precisava fazer algumas perguntas. A primeira, se ela frequentou uma
escola rural ou urbana. Urbana, ela me disse. Depois, se a escola era no
centro expandido ou numa periferia distante. No centro expandido,
continuou ela. Por fim, perguntei quantos dos colegas dela eram negros.
Ela parou. Pensou um pouco. Depois de uma pausa, finalmente disse: “Você
tem razão. Eu não tinha colegas negros”.
Embora os números não
sejam precisos, muitas pesquisas mostram que as escolas no Brasil, antes
da Constituição de 1988, não eram para todos. A evasão era alta, a
matrícula era baixa e o resultado era simples. Em 1970, 34% da população
brasileira era analfabeta. Hoje, é de menos de 10% – um índice ainda
alto.
Nos últimos 30 anos, os números melhoraram, mas não no
ritmo necessário. Para piorar, os avanços foram desiguais. O
analfabetismo entre negros é de 11,2%. Entre os brancos, de 5%. Quando
se olha para os dados do Ensino Médio, mais desigualdade. Hoje, 70% dos
alunos brancos de 15 a 17 anos estão nessa etapa. Entre os negros, esse
número cai para 55,5%. A escola pública excelente da diretora não era
para todos, como ela reconheceu. Mas nossa escola, hoje, também não é.
“E
como eu posso mudar isso?” É uma ótima pergunta. Não é fácil, mas um
bom começo é mostrar aos seus alunos negros que você acredita neles e
que eles podem aprender tanto quanto qualquer pessoa. Parece óbvio
quando dito, mas não é banal quando feito. Pesquisas mostram que, mesmo
sem se dar conta, muitos professores acreditam menos nos alunos negros. E
esses estudantes, muitas vezes, também são mais pobres e vêm de
famílias com menos acesso à Educação formal.
Além de acreditar,
há outras coisas muito simples que você pode fazer para que esses
estudantes também confiem em si mesmos. São práticas capazes de reforçar
a autoestima – ou ao menos impedir que ela seja abalada. Por exemplo,
não diga que um lápis bege é um lápis cor da pele – a maioria das peles
no Brasil não é bege. Nas aulas de Português, estude os grandes
escritores negros brasileiros, como Lima Barreto. Em História, lembre-se
que a África também faz parte do currículo. Parece pouco, e é. Mas isso
já ajuda o aluno negro a se ver como pertencente à escola.
Sim, a
Educação não é capaz de mudar o passado do Brasil. Não somos culpados
pelos que vieram antes de nós. Porém, podemos construir um futuro melhor
para os que já estão aqui – e para os que vierem depois de nós – com
todas as cores que temos, com todas as cores que nossos alunos têm.
Dúvidas? Críticas? Sugestões? Você já sabe: leandro@novaescola.org.br
INFORMAÇÃO RETIRADA DO SITE: https://novaescola.org.br/conteudo/7098/artigo-racismo-na-educacao
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